Liverpool, o eterno swing de uma cidade
Ivan Mattos

O Liverpool John Lennon Airport é apenas uma das portas de entrada da cidade que tem seu desenvolvimento profundamente ligado às águas. A história de Liverpool se origina do movimentado comércio através do rio Mersey e de sua posição estratégica que viu a pequena aldeia de pescadores se tornar uma rota privilegiada no lucrativo tráfico de escravos caribenhos. Das primeiras docas surgidas ainda no século XVII, nada mais restou depois que a grande imigração europeia tomou conta da cidade que se estendeu ao longo de 11 km do rio Mersey. Atualmente um milhão de habitantes vive na zona metropolitana de Liverpool, cercados de uma história que mistura ídolos do rock, pescadores, uma agitada vida boêmia, prédios centenários e um rastro sonoro deixado por quatro garotos nascidos ali que transformaram para sempre a face da música pop: The Beatles. Multiplicidade étnica e invenções
As gaivotas, que voam rasantes sobre as imagens em bronze de diversos ídolos da música contemporânea ao longo do Albert Dock, são testemunhas de uma cidade que viveu dias de glória e momentos da mais pura decadência. Os calçadões cercados de lojas de grife, hotéis de luxo e pontos turísticos já viram dias de turbulência, violência urbana e marginalidade. Um projeto de restauração da zona portuária devolveu à cidade o ar cosmopolita que qualquer cidade da Grã-Bretanha ostenta hoje em dia. A Tate Liverpool, com seu rico acervo de arte moderna é um dos maiores fora de Londres. O imenso portal , em Chinatown, comprova que ali também aportaram os orientais que deixaram sua marca na cidade, a mais antiga comunidade chinesa da Europa. A catedral de pedra, imensa, contrasta com as grandes invenções que marcaram a história do lugar. As primeiras balsas, ferrovias, navios transatlânticos a vapor, trens elétricos e até mesmo o helicóptero, foram pioneiros em Liverpool como meios de transportes de massa. Os primeiros túneis de metrô do mundo foram construídos ali entre 1829 e 1836, ficando para Londres o privilégio de, em 1863 inaugurar a primeira linha do mundo.

The Beatles Story Exhibition
Impossível caminhar pelas ruas centrais de Liverpool e não escutar os acordes de tantas canções que imortalizaram os inquietos garotos mais conhecidos como The FAB 4. Foram eles que fizeram ressurgir nos Swinging Sixties, o conhecido espírito de Liverpool, sacudindo para sempre a cena pop mundial. Visitar o Carvern Club, que no dia 16 de janeiro completou 55 anos, ou o pub em frente onde Paul, John, Ringo e George tomavam seus drinques entre as apresentações, são hoje paradas obrigatórias. The Beatles Story Exhibition concentra toda a gênese dos Beatles, em uma exposição repleta de imagens, objetos, fotos, instrumentos musicais, e toda a memorabilia referente ao quarteto. Tudo devidamente sonorizado e ilustrado por imensos paineis e a recriação dos principais ambientes que contam a história da formação, do apogeu e do fim do grupo. Está lá o submarino amarelo, o estúdio das primeiras gravações, o Cavern Club, o avião da Panair, as guitarras, os LP’s, os artigos de mechandising, os livros de John Lennon, seu piano branco, seus óculos redondos. E suas músicas. Canções inesquecíveis, letras pacifistas e canções lisérgicas. O mergulho no mundo beatle termina em branco ao som de Imagine. Impossível não se arrepiar.

Neblina e sombras
Há uma constante névoa sobre Liverpool no começo deste inverno, misto de maresia e bruma matinal que só se levanta no meio da tarde, e ainda assim, com muita preguiça. O que faz com que os passeios à pé pelos armazéns tombados tenham um toque a mais de charme e mistério. Os cinco grandes armazéns projetados em 1846 e desativados em 1972, hoje abrigam restaurantes badalados, galerias de arte, museus, lojas e escritórios. Os prédios históricos, que circundam a movimentada região dos museus e restaurantes, são conhecidos como As Três Graças. São prédios de imponente estilo neoclássico em confronto com as arrojadas linhas arquitetônicas do Museu de Liverpool, exemplo da moderna construção da cidade. Perto dali, mais um registro histórico interessante: Liverpool foi o porto de registro do Titanic. Da sacada de um dos prédios da avenida que dá frente para o rio foi anunciada a partida oficial da primeira e única viagem do navio que tinha em sua popa as palavras Titanic, Liverpool. Hoje um Memorial aos Heróis da Sala dos Motores está situado na zona portuária da cidade como a lembrar as centenas de vítimas sem rosto que não entraram para a história. O lado mais popular de Liverpool e que é referência mundial são os clássicos disputados pelos dois times de futebol, o Liverpool FC e o Everton FC. As partidas entre os dois gigantes da liga são conhecidos como o derby de Merseyside. São também celeiros de grandes craques do futebol inglês e de craques de exportação. Uma sina de Liverpool, como de tantas outras cidades portuárias, a de exportar talentos e riquezas.



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