A arte brasileira sacudida numa semana
Tania Bian



A Semana de Arte Moderna de 1922, não mostrou novos talentos, mas transformou o panorama cultural brasileiro de forma definitiva .
Por isso, sua importância indiscutível, e o divisor de águas que se tornou por desnudar a insatisfação que grassava nas artes já havia longa data. Foi um movimento coletivo, marcado por personalidades importantes, que sacudiu como nunca o cenário das artes nacionais.
No início do séc. XX, o Brasil não tinha contato com os movimentos vanguardistas europeus. Nossas academias continuavam a difundir uma arte de fortes raízes francesas neoclássicas, ou seja, vivíamos ainda no séc. XIX e desconhecíamos a estética moderna que já havia conquistado o mundo. As exposições de Lasar Segal (em 1913), Victor Brecheret (em 1915) e Anita Malfatti (em 1917), colocaram o público brasileiro em contato com tais tendencias, e a grande polêmica causada pelo artigo de Monteiro Lobato sobre a exposição de Anita, Paranoia ou Mistificação, provocou a indignação e a movimentação dos modernos em favor da artista, e acirrou os ânimos.

A explosão modernista

Era um período de muitas turbulências econômicas, políticas e sociais no País, e particularmente na cidade de São Paulo, industrializada e mais aberta a inovações. Era a República Velha, comandada pelo eixo do café-com-leite e pelas grandes oligarquias cafeeiras.
A Semana de Arte Moderna teve como objetivo discutir a arte e a cultura brasileira e atualizar o cenário nacional. Paulo Prado conseguiu que a Semana se realizasse no Teatro Municipal e fosse promovida por figuras de proa da sociedade. Foram reunidos representantes de diversas áreas: pintura, arquitetura, escultura, poesia, música e dança.
Realizou-se de 11 a 18 de fevereiro de 1922, organizada por intelectuais do Rio de Janeiro e de São Paulo, tendo Graça Aranha à frente. Queriam mostrar um amplo panorama do atual nas artes. O evento teve ampla divulgação. Não se sabe exatamente como surgiu a ideia, mas é certo que visava à renovação e à libertação da arte brasileira das suas amarras europeias.
Foi um marco na história cultural brasileira, pois abriu novas perspectivas para o país, provocando discussões e mostrando caminhos diferentes a serem trilhados. Era essencial acabar com a corrente academicista e buscar novas linguagens.

Repercussão

Na realidade, o sucesso da Semana veio com o tempo, e com as futuras gerações modernistas que nela se inspiraram. Muitos movimentos surgiram já na década de 1920, como o Movimento Pau Brasil e o Movimento Antropofágico.
As revistas Klaxon (do francês, Buzina) e Antropofágica foram lançadas e, com elas, vieram a divulgação e a propagação das novas ideias, como também surgiram novos críticos de arte. Passou a existir a preocupação de discutir as novas tendências estéticas, estudá-las e compreendê-las.
Um sentimento nacionalista apoderou-se de diversos artistas. Uma mudança de temática apareceu e marcou nossa história, de modo que assumimos nosso colorido e regionalismos. A modernidade alastrou-se, mostrando-nos um cenário até então desconhecido. Eram as cores jeca de Tarsila do Amaral, a tipologia de Portinari, as mulatas de Di Cavalcanti, a grande ebulição da gravura com Goeldi...enfim, era o Brasil mostrando suas raízes e riquezas, assumindo uma arte de caráter nacional, sem as influências europeias que o tinham manietado.
Essa foi a herança da Semana de Arte Moderna de 1922. O nascimento de uma arte genuinamente brasileira.

Sugestão de filme:

O homem do Pau Brasil. Direção de Joaquim Pedro de Andrade. 137 min. Relato sobre a vida de Oswald de Andrade e demais artistas, recriando o universo modernista de 1922.

Principais nomes da SAM

Dentre os artistas que participaram da Semana de Arte Moderna, podemos citar Brecheret, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, John Graz, Zina Aita, Vicente do Rego Monteiro, Ferrignac, Heitor Villa-Lobos, Menotti Del Pichia, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, entre outros. A ideia que o grupo compartilhava, era de reação à arte acadêmica, mas não havia coesão em torno de um movimento estético novo. Assim que a Semana terminou, estes diferentes artistas começaram a buscar sua própria linguagem. Também surgiram outros que não participaram do movimento, mas que tiveram sua atenção por ele despertada, como Tarsila do Amaral (autora do clássico Abaporu ) e Cândido Portinari.

Tânia Bian é coordenadora e professora titular dos Cursos Integrados de Artes da PUCRS.



  Fechar